Escurece rapidamente enquanto voltamos para Negombo. O céu avermelhado e exuberante de há pouco dá lugar a outro, escuro e triste. Estamos muito cansados para conversar, receber novas informações sobre o país e o povo. Apenas um clima de total silêncio reina. Tudo o que mais desejamos é a cama limpa e confortável do hotel para dormir. O silêncio apenas é quebrado pela pergunta de Roy, sobre o roteiro do dia seguinte. Respondemos que não temos nada definido em mente. Precisamos orar; buscar a Deus. É Ele quem sabe. Silencio de novo enquanto a esposa de Roy dorme tranquilamente no assento de trás, já exausta e vencida pela longa viagem.
Olho pela janela observando os vultos das árvores e casas. Curiosos pontos luminosos me chamam a atenção. Estão presentes por todo lugar, como lantejoulas douradas, artisticamente bordadas em veludo negro.
Ao aproximarmo-nos, vejo que são lanternas de papel colorido, cuidadosamente confeccionados e colocadas nas árvores e nas casas. Lembro-me de relance das bandeirolas que vi ontem enquanto me dirigia para o templo budista. Trazem as mesmas cores. É que o Vesak* é celebrado por dois dias. Hoje é ainda dia de festa para os budistas. Festa, essa, tão importante para eles quanto é o Natal para nós cristãos.
As lanternas são para lembrar a “iluminação” de Buda. Lembro que Jesus por ser Ele mesmo a luz do mundo, com certeza não precisaria delas, e as dispensaria.
O clima é de festa mesmo. Ainda olhando pela janela, consigo ver nitidamente as comidas preparadas e colocadas sobre as mesas para esta ocasião. As crianças pulam, gritam, naquela alegria pura de quem ainda não consegue entender o perigo de tudo aquilo. Uma tristeza aguda e imensa invade o meu coração. Quero chorar! Por ter recebido tanta revelação e ter um dia os meus olhos abertos para ver a verdadeira luz, me sinto culpado e responsável por aquela gente. Ah! Que vontade de descer do carro e dizer para eles: “Esqueçam as lanternas! É que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador que é Cristo. Não precisam mais de uma luz artificial e temporária; Ele é a Luz do mundo; Ele, e somente Ele, é a luz neste mundo ignorante e tenebroso. Vocês não precisam mais de Buda. Ele está morto, mas vocês podem viver”. Ah! Que vontade. Sinto uma dor no peito, e uma tristeza ao olhar toda aquela festa. Talvez seja só um pouquinho da dor que Deus sente ao ver um mundo desgarrado dEle; seguindo ídolos que não podem salvar. Choro um choro baixinho, mas que soa como um alto clamor. Clamor por um mundo que cambaleia, embriagado e sem Deus.
Depois desse dia, nunca mais vou ser o mesmo. Aliás, não quero mesmo ser. Algo mudou. Fiz a decisão de adotar esse povo. Aqui é o meu lugar. Quero me dedicar a eles, servindo e amando.
Ao nos afastarmos do lugar ainda se é possível ver as luzes, as silhuetas; ouvir o som da música e o burburinho da vila. É que hoje é festa; uma triste festa!